Estou mesmo pertíssimo de me tornar maior de idade (4 dias... já?!?) e supostamente, nas mais variadas teorias, sou uma pura adolescente na idade das cismas, das preocupações estúpidas com a imagem, dos amores não correspondidos e de mais uma carrada de coisas que, no geral, qualquer adolescente faz.
E não, eu não fujo totalmente à regra, mas há imensos pontos dos quais eu esteja a passar ao lado e outros tantos já os tenha passado mais cedo; outros tantos talvez se revelem muito mais tarde.
A vida obrigou-me a crescer muito repentinamente, isto se quisesse ser uma pessoa minimamente plena de felicidade e tranquilidade (claro que há sempre o "mas"). Também me obrigou a ser uma pessoa positiva, a ter autoestima - deixar de duvidar de mim mesma foi fulcral.
Já quase me habituei a ouvir amigas minhas a reclamarem forte e feio do seu corpo. Que a verdade seja dita: eu reclamo do meu corpo; não sou diferente. Reclamo, mas não cismo de forma doentia. Ouço reclamações de uma pequeníssima estria, de uma espinha que já quase nem se nota. Até dizerem que tinham que emagrecer porque passaram a comprar calças 38 em vez de 36, imaginem só!
Pensando bem e se tivesse a mesma ideia que elas, eu vivia a choramingar pelos cantos todo o santo dia. Tenho muito mais "defeitos" que elas em certos aspetos e lido bem com isso.
Tenho estrias que se notam nas pernas porque engordei repentinamente há uns anos. Tenho uma anca um pouco larga, fruto da crescimento e mudanças corporais da adolescência. Não gosto que me apareçam espinhas, mas não armo uma escândalo por tal coisa, até porque todos passam pelo mesmo. Visto calças 38/40 (por causa da anca e coxas) e camisolas L, muitas vezes por causa do peito volumoso (e eu detesto ter tanto volume, enquanto muitas desejavam aumentar o peito!) .Mas não é por isso que me sinto mal quando entro numa loja. Não é por isso que deixa radicalmente de comer certos alimentos.
Eu olho-me ao espelho e respiro confiança. Eu vejo as estrias, mas isso são marcas que me tornam diferente. Existem imensos produtos de um certo tipo no mercado e todos eles têm diferenças, nem que sejam mínimas.
Eu olho para o espelho e vejo, obviamente, o meu corpo ampulheta mais "cheiinho". Toda a estrada tem curvas e eu tenho-as ligeiramente mais salientes. Não são curvas perfeitas, mas são as suficientes para pegar num vestido mais justo e ele assentar-me bem, fazendo sobressair as curvas (que, por sinal, para muita gente isso é sexy).
Eu olho para o espelho e vejo dois tons de pele. Um moreno e um mais branco. Certas partes do corpo já sofreram com queimaduras de 1º e 2º grau. No verão isso ainda é mais notório e sei que na praia muitas pessoas olham para mim. Mas não é por isso que eu me sinto mal. Muito pelo contrário. Na altura chorei muito e tive um grande desgosto, mas agora, isso é tão natural como eu me chamar Andreia.
Eu olho para o espelho e vejo um peito volumoso. É-me difícil comprar soutiens que sustentem bem o peito e nem todas as copas me assentam bem. É trágico correr sem soutien desportivo (dos bons), porque tudo salta como a Alice no País das Maravilhas. Certos decotes são horríveis quando me agacho. Vê-se tudo. Eu olho para o peito e é aquele que eu tenho. Todo o carro tem para-choques.
Eu olho para o espelho e, apesar de tudo isso, eu sorrio. Para os estereótipos do senso comum, não sou a gaja perfeita, a "so fucking good", a mulher de sonho. Eu sorrio porque sei que, por detrás desta embalagem não totalmente perfeita, está um produto que para muitos poderá ser de qualidade.
Mesmo assim, eu não sou perfeita. Eu lido com todas as imperfeições e mais algumass e não entro em paranóias. Eu confio em mim. Prefiro conquistar com inteligência e boa postura do que com uma figura escultural.
Consigo sair de casa sem maquilhagem nenhuma e sentir-me confiante. Consigo sair de casa de calças de fato de treino e t-shirt largas e sentir-me bem. Não sou a Queen dos saltos altos, mas não me sinto menos gaja por isso.
Há certas coisas na maquilhagem onde sou um desastre. Mas não me sinto inferior por isso mesmo. Redobro o esforço e lá vou aprendendo aos poucos. Erro mil vezes, mas não desisto.
Eu olho para o espelho e vejo uma gaja que pode conquistar tudo o que pretende. Porque o que importa, na verdade, é sentirmo-nos bem. Isso é meio caminho andado para tudo o resto. A dose completa de autoestima, juntamente com uma de esforço para sorrir e encontrar pontos positivos em toda e qualquer situação é a receita de felicidade, numa parte considerável.
Eu sou perfeita com as minhas imperfeições. Eu estou no mercado (na sociedade) e diferencio-me (com as imperfeições). E não é por isso que deixe de vender (de fazer amizades, de ser feliz).