Acho que oficialmente cheguei àquela fase em que já começo frequentemente a dizer a expressão "Quando era pequena..." pois já me convenci o suficiente de que a infância já lá vai e que entrei nas casa dos 20's e que já não há volta a dar.
A verdade é que dei por mim a pensar recentemente de que o meu espírito de Natal já não é o mesmo. Se é melhor ou pior, não o posso julgar por terem acontecido em contextos diferentes, mas é engraçado comparar o que agora valorizo e o que antes era obrigatório para mim.
Senão vejamos: nunca fui tão dedicada a doces de Natal como sou agora. O Natal, atualmente, tem de ter uma mesa farta de doces tradicionais, que é como quem diz, ter o bolo-rei (para mim, de chocolate), tronco de Natal, aletria, formigos, rabanadas e filhoses. Eu que nem era grande apreciadora destes doces, dou por mim agora a salivar só de pensar que daqui a uns dias vou poder me lambuzar com aquilo tudo. Aliás, já invado a cozinha para participar na confeção dos mesmos pois se há aroma que me encanta é o cheiro a canela (para mim a canela cheira a Natal, don't judge me).
Relativamente a prendas, nunca fui uma criança com uma lista enorme de brinquedos que pretendia. Gostava imenso de folhear os catálogos da Toys R Us e de apontar o que me interessava, mas chegava a hora do "O que vais pedir ao Pai Natal?" e só pedia uns dois brinquedos, no máximo. Não gostava de receber chocolates e pijamas e hoje é o dia em que adoro receber tais coisas. A isso podem juntar umas meias pirosas, umas bijutarias bonitas e cremes que eu regalo-me toda. Contudo, mesmo que não me ofereçam nada, contento-me com uma mensagem a desejar as Boas Festas, que é sinal de que se lembraram de mim.
Continuo a escrever postais de Natal, embora cada vez mais isso seja um hábito raro, mas que faço questão de não o deixar morrer. Isto porque um postal, geralmente, é guardado para a posterioridade e a mensagem via telemóvel, mais tarde ou mais cedo, vai se perder na imensidão de mensagens recebidas.
Receber dinheiro deixava-me confusa em pequena... mas para que raio eu queria aquilo? Ele sempre se destinou a comprar roupa de que precisava e pouco mais. Nos dias de hoje, é aquela felicidade de saber que aquela nota de 10€, por exemplo, vai para a vaquinha para o telemóvel novo ou outro quaisquer objetivo que tenha.
Dou por mim a ser cada vez mais ligada às tradições. A Ceia de Natal tem de ter o famoso bacalhau e a lareira acesa para nos aquecer. No final, partimos todos para jogos baseados em cartas e tabuleiros., seno que a televisão praticamente só faz o barulho de fundo.
E se outrora passava a ceia numa mesa com mais de 20 pessoas, hoje somos apenas 4, os de cá de casa. A casa já não é a mesma, o número de pessoas é menor e a transição foi todo um processo que me custo mas que acabei por me conformar. Considero que foi isto que me fez ser ainda mais agarrada às tradições. Afinal de contas, de que vale estar numa mesa repleta de pessoas quando muitas estão ali na mais pura das farsas?
Se há coisa que sempre gostei é de embrulhar prendas e oferecê-las. Gosto de escolher com cuidado, sempre atendendo àquilo que a pessoa pode gostar ou não e de ver a sua reação no momento em que abre a prenda. Sou apologista do papel de embrulho e não de sacos das marcas com meia dúzia de agrafos e um laço (não me faz sentido nenhum!). Só se o saco for mesmo bonito (o que raramente acontece), senão vai tudo corrido a papel de embrulho do mais natalício possível.
"A Todos Um Bom Natal" continua a ser a canção que mais me arrepia e que faço questão de a ouvir pela primeira vez no Natal dos Hospitais da RTP. Só a partir daí é que começa o non-stop de músicas natalícias, que todos os anos são as mesmas, embora o reportório atual seja bem maior que o de outros tempos, constituído pelas canções que ia aprendendo na escola.
Sou do tempo em que ainda recebia os presentes no sapatinho, onde tinha de esperar pela manhã do dia 25 para saber o que o Pai Natal tinha trazido para mim. Era toda uma emoção acordar e sair a correr pela escadas abaixo de pantufas rumo à lareira, onde lá estava o meu melhor par de botas e alguns embrulhos. Agora já muitas crianças recebem os presentes de um Pai Natal que, na verdade, é sempre um familiar disfarçado dessa personagem e que entra pela casa adentro. Para mim isso já não tem o mesmo sabor.
O espírito de Natal vai mesmo mudando à medida que crescemos. Certos aspetos que valorizávamos imenso já não nos fazem sentido e descobrimos toda uma panóplia de outros aspetos que começam a fazer sentido e que zelamos por acontecerem.
Tal como já aqui disse, se é melhor ou pior, isso é algo que não posso julgar. Mas o que sei é que são diferentes... e que, muito certamente, daqui a alguns anos, será diferente do que é hoje.
Para concluir, deixo duas grandes frases encontradas por aí que agora definem o meu verdadeiro espírito de Natal:
"Não seria Natal se não exagerássemos na comida e na bebida ao ponto de ficarmos diabéticos, obesos e alcoólicos" (só de pensar no que vou comer já me sobem os níveis de açúcar ahahah)
"O espírito de Natal não está dentro de caixas com laços, mas sim no coração de cada um"
E o vosso espírito de Natal? Continua o mesmo ou sentem diferenças?