Perguntas choradas...

Abro a playlist no meu telemóvel enquanto pela rua meia gelada eu vou até à paragem de autocarro. Vou passando as canções e chega a "Faixa 1". Não tenho coragem de passar mais, bem que tento apostar para mim própria que irei ser capaz de esta vez não ouvir nenhuma canção dele, mas é-me impossível.
Algo faz-me parar, me tira a força nas mãos e permite que o telemóvel comece a soar "Por fin". É algo que não consigo explicar, é mais forte do que eu. Sou eu a lutar contra as Leis da Natureza, talvez.
Hoje a audição "Terral" pela manhã. algo que já se tornou num hábito, teve algo de diferente. Se na primeira faixa eu fiquei numa nostalgia sem precedentes, na canção número seis "Recuérdame", não me contive. Já estava no autocarro, sentada ao lado de uma senhora desconhecida. Tinha idade para ser minha mãe, minha tia e tinha ares de ser uma boa pessoa. "Tinha ares", ou seja, não quer dizer que isto seja um facto.
Saltaram-me as lágrimas em pleno autocarro, algo que em dezasseis anos de vida me havia acontecido. Ando de segunda à sexta pelo menos uma vez por dia de transporte público e nunca me deu para semelhante. Eu limpava uma, caíam-me duas lágrimas. A senhora olhava para mim disfarçadamente, com cara de quem se estava a interrogar para si própria o que estava a passar comigo. Foi assim até chegar à escola.
Saí do autocarro, onde me havia acontecido algo único e dou-me de caras com a minha prima. Ao reparar que estava com os fones nos ouvidos, deu-se ao trabalho de mos tirar e antes do "Bom dia" habitual, perguntou-me "Estavas a ouvir o Alborán, não estavas?".
Aceno com a cabeça que sim e ela, sem nada dizer-me, abraçou-me. Deixei-me levar e se no céu não caía nada, na minha cara caíam lágrimas com uma pergunta que sempre faço: Quando? Para quando está marcado o dia em que poderei estar a pouca distância desse homem que tantas lágrimas me faz soltar, que tanto sorriso me dá? Será que isso vai mesmo acontecer um dia?
Às vezes a minha esperança é zero... zero ou até menos de zero, negativa. Acho que nunca irei passar da distância "eu frente ao palco e ele lá em cima a dar show", tal como me aconteceu no Porto no ano passado, onde eu me encontrava na segunda fila, Foi a distância mais curta a que o vi.
Tenho uma prima que sabe o que sinto em relação ao malaguenho e, apesar de me já ter dito muitas vezes que não gosta muito do seu estilo musical, afirma-me vivamente que o que tenho merece o respeito.
Na verdade, eu não preciso do respeito, mas sim de o abraçar, de poder (tentar) dizer-lhe toda a força que me deu para enfrentar duas situações que marcaram o meu passado recente. Foi ele, com tanta distância e com uma voz angelical, que me fazia batalhar contra um corpo queimado em 10% com queimaduras de primeiro e segundo grau. Não estou a exagerar, chorava sem cessar, e encontrava na sua música o consolo que na minha família não encontrava. Não desprezo o apoio que me deram, mas havia algo que não me estavam a dar e o Pablo conseguia fazê-lo, apesar de ele não o saber.
Foi a minha fonte de paciência para estar mais de uma semana deitada de barriga para baixo, depois de uma operação de remoção de um quisto sacro-coxígeno que tinha tudo para dar errado, para ficar infectado. Lá que me contive, eu, pessoa impaciente, sem me poder sentar, pior que um idoso a caminhar.
Aprendi a ver a música de outra forma, creio que em certos aspetos cresci. Não o acompanho desde os tempos em que publicava vídeos no YouTube, quando era simplesmente o Pablo Alborán. Sou do tempo do lançamento de "Perdóname", com a fadista Carminho, no nosso país.
Desde esse dia que algo mudou... e mudou para melhor...


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