Quisiera yo llamarte ahora mismo...
Abro o leitor de música no telemóvel. Entre a playlist "Várias", "Portuguese", surge a mais tocada, "Terral - Pablo Alborán". Tento resistir, jurar a mim própria que não o irei ouvir. Não resisto, faço click e "Por fin" soa a boa melodia com alguns raios de sol a entrarem pela janela.
Abro o caderno de matemática, hora de estudar. Página 144, proposta 38, escrevi. Alínea 1, 1.1 e "Por fin" estava a ponto de acabar. O "Pag.144" a caneta azul acabara de se manchar na folha quadriculada. Passo a mão no rosto e já uma lágrima caía.
Fiquei pior. Pousei a caneta, esqueci o estudo e deixei-me levar. O bom ritmo de "La escalera" soava e comecei a cantar para mim. Sentia-se bem, quem sabe melhor do que um yoga. Passou uma e outra, e seis canções já haviam passado. Mais de meia hora sentada, de fones nos ouvidos, a disfrutar de boa música.
Caía mais uma lágrima, começava "Ahogándome en tu adiós" e o descalabro, ou talvez a libertação nata. Não me contive e no meu mundo me refugiei, quem sabe "ahogando" esse mesmo "adiós". Tanto que quis sorrir, tanto que quis aparentar felicidade, que o momento derradeiro chegava naquele mesmo instante. Sentia-me derrotada. Não estava fácil. Não é fácil.
... e com apenas o "te volvería a llamar...", submeto-me à dor, à derrota, à saudade, à tristeza, misturada com mil e uma questões que faço à vida e que todavia não tenho resposta.
A sua voz tinha-me ali cativa e não havia dever de estudar, dever moral que me deixasse. O caderno não me chamava, o lápis muito menos. E assim continuei.
Se por um lado tinha desperdiçado uma hora e pouco, por outro ganhei uma hora e pouco. Sentia-me leve quando o acústico de "Por fin" já soava. Dava-me aquela vontade de chamar alguém, de chamar alguém que não vem. Eu chamo de igual forma, eu chamo, suplico e de olhos fechados nos encontramos. Sentia-se o abraço, o carinho e a afinidade.
De facto o "Te volvería a llamar", tornar-se-ia num essencial "Quisiera yo llamarte ahora mismo". Queria mesmo. Quero muito e sempre quererei.
Sonhei de olhos abertos, enchi o peito de ar. Sentia-me orgulhosa, sentia-me feliz. Uma vez mais alguém de acudia numa queda momentânea. Alguém esse que em quedas contínuas havia estado comigo também. A presença é mais que notória.
Não está comigo, isso é certo. Mas que importa? Uns fones levam-me lá, bem pertinho, bem juntinho. Vou cheia de carinho e felicidade, afogo as minhas lágrimas e faço explodir as minhas alegrias, conto medos e segredos. Faço questões.
Ao fim e ao cabo, eu sei a quem recorrer em toda e qualquer circunstância. Vivo assim e assim sou eu. Vivo em sonhos, de pés na terra. A mim mesma me confesso, em mim mesma me supero e sigo adiante. Mas nunca sozinha.
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